O que o maior suicídio coletivo da história dos EUA tem a ver com ufologia? Infelizmente, muito. Conheça o Heaven’s Gate, a seita OVNI que culminou no maior suicídio coletivo da história dos Estados Unidos até hoje.
O cometa Hale-Bopp ainda está visível e não colidirá com a Terra como previsto no Apocalipse, mas para o grupo Heavens Gate (Portão do Céu) este parecia ser o sinal para se livrar da vida terrestre. O grupo era liderado por um homem homossexual e castrado chamado Marshall Applewhite (rebatizado de “Do”) sendo formado na maioria por pessoas formadas de idades variadas e ligadas ao trabalho de informática. O grupo de 39 (21 mulheres e 18 homens) pessoas cometeu suicídio na crença de ser resgatado, dessa forma, na espaçonave alienígena que seguia na cauda do cometa.
O maior suicídio coletivo realmente auto-consentido da história recente chocou a América tanto por ter sido realizado por pessoas de classe média quanto por ter misturado, numa espécie de novo sincretismo, mitos religiosos, bíblia, ficção científica e alta tecnologia.
Origem da seita
Fundado na Califórnia em 1974 por Marshall Applewhite (“Do”, também “Bo”) e Bonnie Nettles (“Ti”, também “Beep”), o movimento atraiu centenas de seguidores em seu auge, até sua “formatura” em março de 1997.
Marshall Applewhite e Bonnie Nettles. |
Marshall Applewhite, filho de um ministro presbiteriano, iniciou sua incursão na profecia bíblica nos anos 1970. Após ser demitido da Universidade de St. Thomas, conheceu Bonnie Nettles em 1972, uma enfermeira casada. Convencidos de uma missão divina predita por extraterrestres, basearam suas crenças em fanatismo eclético.
O movimento liderado pelo casal conquistou adeptos e teve vários nomes. Antes de assumir seu nome mais conhecido, o grupo era chamado de Human Individual Metamorphosis. Foi, então, que, no decorrer da década de 1970, o movimento foi intitulado de Heaven’s Gate.
Os dois acreditavam ser as duas testemunhas do Apocalipse e proclamaram uma reencarnação texana de Jesus. Preparavam-se para um evento chamado “a Manifestação”, onde seriam mortos, ressuscitados e transportados para uma nave extraterrestre que seguia a cauda do cometa Hale-Bopp, para consternação de outros grupos religiosos.
Características da crença
Folheto para uma reunião de recrutamento em Heaven’s Gate, Berkeley, Califórnia, maio de 1994. |
O Heaven’s Gate tinha um sistema de crenças complexo que incorporava elementos de religião, ficção científica e Nova Era. Alguns pontos-chave incluiam:
1. Identidade Extraterrestre: Acreditavam que eram seres extraterrestres com missões divinas. Marshall Applewhite afirmava ser a reencarnação de Jesus Cristo.
2. O Próximo Nível: Acreditavam em uma dimensão superior chamada “Próximo Nível”, onde seres evoluídos espiritualmente habitavam. Buscavam transcender a humanidade para alcançar esse nível.
3. Renúncia Total: Exigiam que os membros renunciassem a todas as características humanas, incluindo família, amigos, gênero, sexualidade, empregos e posses, para serem elegíveis para o “Próximo Nível”.
4. Crenças Cristãs Reinterpretadas: Inicialmente, interpretaram as crenças cristãs, como a reencarnação de Jesus, de maneira única. Com o tempo, incorporaram a hipótese do antigo astronauta e reinterpretaram conceitos cristãos à luz de contato extraterrestre.
5. Conceito de Walk-ins: Adotaram a ideia de “walk-ins”, seres que ocupam corpos desocupados. Acreditavam que suas identidades anteriores eram como lousas em branco.
6. Conflito com Luciferianos: Acreditavam em alienígenas malévolos chamados Luciferianos, que se apresentavam como “Deus” e impediam o desenvolvimento humano. Consideravam esses seres responsáveis pela corrupção das religiões terrestres.
7. Suicídio como Transição: Não viam o suicídio da mesma forma convencional. Consideravam permanecer na Terra e não participar do “suicídio grupal” como uma forma de suicídio da consciência, impedindo a transição para o “Próximo Nível”.
Essas crenças foram flexíveis ao longo do tempo, incorporando conceitos da Nova Era e ajustando-se às mudanças nas lideranças e circunstâncias. O grupo acreditava que sua existência terrena era apenas uma fase em direção à evolução espiritual superior.
O suicídio
Fotografia mostrando os corpos dos membros do suicídio. |
Nos planos iniciais, os participantes não precisariam perder a vida para alcançar o nível superior. Inicialmente, foi comunicado aos membros que poderiam deixar seus “invólucros” sem recorrer ao ato de suicídio.
A expectativa era serem transportados para o disco voador, mantendo seus corpos durante a transição para o “Próximo Nível”. Entretanto, após a morte de Nettles, Applewhite alterou a doutrina, afirmando que todos receberiam novos corpos para a jornada.
O grupo reconheceu então que a morte poderia ser necessária para sua coleta pela nave extraterrestre.
Apesar de estarem distantes de suas famílias e amigos, os membros do Heaven’s Gate não viviam totalmente isolados.
Dois dias antes dos suicídios, na sexta-feira, eles compartilharam uma última refeição no restaurante Marie Callender, em Carlsbad. “Todos pediram exatamente a mesma coisa”, recordou um garçom.
“Tudo estava planejado antes de chegarem. Optaram por chás gelados para beber, enquanto o jantar consistiu em saladas com molho de vinagre de tomate e torta de peru como prato principal”, detalhou.
“Eles pareciam muito agradáveis, amigáveis e educados. Ninguém demonstrava sinais de depressão ou algo parecido”, resumiu o garçom.
Nos últimos dias de março de 1997, os membros da Heaven’s Gate gravaram suas mensagens de despedida. Apesar de os 39 membros da seita terem sido encontrados mortos em 26 de março de 1997, os relatórios do legista indicaram que os suicídios não ocorreram simultaneamente.
A partir do domingo, 23, os membros se suicidaram usando uma combinação de fenobarbital, álcool e hidrocodona, ingeridos provavelmente com molho de maçã ou pudim.
Em seguida, deitaram-se em suas camas, cobriram as cabeças com sacos plásticos e morreram por sufocamento.
Os primeiros 15 a falecer receberam assistência de oito pessoas. Um segundo grupo de 15 seguiu o mesmo procedimento. O grupo de oito foi o último a pôr fim às suas vidas. Antes disso, ajudaram Applewhite a “deixar seu invólucro”. Ao final, 39 indivíduos consumaram o ato suicida.
Cuidado com as seitas OVNIs
Em conclusão, os trágicos eventos ligados à seita Heaven’s Gate oferecem uma dolorosa reflexão sobre os perigos inerentes às seitas extremistas. Esses grupos, muitas vezes, exploram vulnerabilidades individuais, manipulando crenças e oferecendo uma falsa sensação de propósito.
A história da Heaven’s Gate destaca como líderes carismáticos podem distorcer crenças espirituais, conduzindo seguidores a decisões extremas, como o suicídio em massa.
Após o suicídio, o casal membro do grupo há 12 anos, Mark e Sarah King, ficaram responsáveis por manter a seita, e propagar seus ideais. “De certa forma, é como plantar sementes para o futuro, para que as pessoas possam se familiarizar com o próximo nível e se preparem para um eventual retorno”, descreveram os administradores do site, que continua no ar até hoje.
Aqui, no Ovniologia, já fiz uma matéria abordando as crenças ufológicas. Além de críticas pessoais a essa prática, apresento algumas outras seitas OVNI que, felizmente, não culminaram em algo tão trágico.
Fontes e referências:
https://www.menshealth.com/entertainment/a34817569/marshall-applewhite-do-heavens-gate/
https://www.infoescola.com/religiao/heavens-gate/amp/