Em 1980, o município de Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro, foi palco de um dos episódios ufológicos mais inusitados do mundo. Seguindo o guru Edilcio Barbosa, mais de 10 mil pessoas se reuniram à espera da chegada dos “Jupiterianos”.
Se, assim como eu, você se pergunta “como?” e “porquê?” Sobre o que culminou para que esse inusitado ‘Woodstock ufológico brasileiro’ acontecesse, estamos no mesmo barco.
Casimiro de Abreu é um pequeno município do interior do estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Para se ter uma ideia, sua população estimada em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) era de 41.167 habitantes. (Imagina na década de 80) Município litorâneo, Casimiro de Abreu é um polo de turismo ecológico e rural: rios, cachoeiras e mar são suas grandes atrações.
No entanto, esse pequeno município foi palco de um grande evento ufológico que ocorreu em 8 de março de 1980. Naquela data, milhares de pessoas – as estimativas dizem que de 10 a 30 mil do município de outros lugares do Brasil e até do exterior – se reuniram para recepcionar os “Jupiterianos”.
Milhares de pessoas se reuniram para receber os Jupiterianos (Foto: Reprodução Inter TV) |
Todo esse rebuliço só se tornou possível graças a um homem, uma figura que, de certa forma, passou a fazer parte da história da ufologia brasileira e se autointitulava o “mensageiro de Júpiter”.
O guru Edilcio Barbosa, que liderava o movimento, afirmava ser capaz de estabelecer comunicação com os “Jupiterianos” e prometia uma revelação transcendental. Sua influência foi tão significativa a ponto dessa verdadeira multidão de seguidores se unirem a ele na expectativa de testemunhar algo de outro mundo.
O que aconteceu naquele dia
O dia começou com grande expectativa, incluindo imprensa e órgãos internacionais, esperando no entorno da fazenda Nossa Senhora da Conceição, pela chegada de um disco voador e seus tripulantes.
Conforme as pessoas aguardavam ansiosamente a revelação iminente, Barbosa liderava o grupo, afirmando que a chegada dos Jupiterianos traria conhecimentos cósmicos e uma nova era para a humanidade.
Uma verdadeira multidão de reuniu para esperar os ETs de Júpiter. (Foto: Reprodução Inter TV) |
Os participantes estavam imbuídos de esperança e fé, acreditando que presenciariam algo único e transformador. O clima era de excitação, com a multidão aguardando impacientemente o momento anunciado para o contato extraterrestre.
A repercussão do evento alcançou a mídia nacional e internacional, envolvendo entidades como a Defesa Civil Estadual, Polícia, Exército, e, conforme algumas fontes, até mesmo pesquisadores da NASA, embora essa alegação careça de verificação. A administração municipal, em preparativos, organizou uma recepção formal para os visitantes extraterrestres. O cronograma abrangia um desfile oficial pela cidade, um café da manhã festivo, um baile e a entrega de uma enciclopédia aos habitantes de Júpiter.
A chegada da nave em Casimiro de Abreu estava agendada, segundo as palavras do mensageiro jupiteriano, para as 5h20 da manhã do dia 8 de março, horário de Brasília (embora algumas fontes mencionem 5h40). Na área designada para o pouso, a presença humana estava vetada, sob a condição de que, caso contrário, a nave não desceria.
A suposta área de pouso da nave Jupiteriana foi guardada por polícias. (Foto: Reprodução Agência O GLOBO) |
Um periódico local divulgou os “10 preceitos dos Seres Extraterrestres”, contendo uma série de orientações a serem seguidas durante o evento, transmitidas diretamente pelo mensageiro de Júpiter. Adicionalmente, especulava-se que os alienígenas não chegariam sozinhos a Casimiro de Abreu; havia rumores de que trariam consigo, na nave, quatro humanos que supostamente haviam sido abduzidos.
A aglomeração teve início nos dias anteriores. Contudo, na hora prevista, após uma longa espera da multidão, nada se concretizou. O tumulto se instaurou, e Barbosa quase foi alvo de linchamento, necessitando de escolta policial para sua segurança. Revoltados, a multidão – muitos dos quais haviam esperado desde a noite anterior – começaram a se dispersar e ir embora, indignados por não terem avistado os seres de Júpiter, como havia prometido ‘o guru’.
O “mensageiro de Júpiter” precisou sair escoltado do local. (Foto: Reprodução Agência O GLOBO) |
Como Edilcio conseguiu essa proeza?
Muitos indagam sobre como Barbosa conseguiu persuadir várias autoridades e uma multidão de que um evento tão improvável ocorreria na pequena cidade. A explicação mais plausível é que uma demonstração realizada uma semana antes, para o prefeito, o delegado da cidade e um grupo seleto, teria assegurado a credulidade deles.
Um suposto avistamento previamente anunciado de uma “esfera luminosa” atravessando o céu e retornando pouco depois da meia-noite do dia 2 de março teria servido como essa confirmação. Embora não tenha sido um avistamento detalhado, a ampla cobertura da imprensa, de maneira impressionada, contribuiu para persuadir a comunidade.
Edilcio Barbosa. |
Barbosa afirmava ser ufólogo, membro da “Sociedade Interplanetária do Rio de Janeiro”, e tinha fama de vidente. Além disso, pouco se sabia sobre ele. Na época, a imprensa não conseguiu obter muitas informações. A única certeza era que ele era filipino, tendo chegado ao Brasil com os pais em 1942, aos seis anos de idade. Era casado e tinha 14 filhos, de acordo com o que ele relatava. Contudo, o restante de sua vida permanecia envolto em mistério.
Apesar disso, a confiança nessa figura peculiar era tão grande que uma comissão de recepção oficial foi formada. Os nomes foram escolhidos pelo próprio Edílcio, “com base em indicações dos jupiterianos, há três meses”, conforme relatavam os jornais na ocasião.
Por fim
Barbosa explicou a ausência dos extraterrestres alegando, primeiramente, que eles não tinham autorizado um evento para tanta gente e, em segundo lugar e mais crucial, uma equipe de jornalistas teria desrespeitado as instruções de distância mínima para segurança no local designado, impedindo o pouso.
Dias depois, o enigma em torno dessa narrativa alcançaria outro nível. Conforme relato do repórter Mario Dias, Barbosa teria compartilhado com ele novas e dramáticas informações dos jupiterianos. Esses seres teriam previsto que ele perderia a perna esquerda em dois meses.
Edilcio Barbosa numa após a amputação da perna esquerda (Reprodução: Efeito Casimiro – Portal Curtas) |
De fato, após dois meses, uma unha encravada levou à gangrena na perna esquerda de Barbosa. Jornais chegaram a publicar fotos dele em casa, já sem uma das pernas. De acordo com o repórter Dias, que continuou acompanhando a trajetória do “mensageiro de Júpiter”, em breve se concretizou a previsão da perda da outra perna e, alguns meses depois, seu falecimento.
Abaixo, deixo o vídeo do documentário produzido pelo Portal Curtas – Efeito Casimiro, onde eles abordam o inusitado e curioso episódio de Casimiro de Abreu: