Cientistas apresentaram outra explicação potencial para o motivo de nunca termos encontrado sinais de vida extraterrestre no cosmos — talvez estejamos vivendo no universo errado.
Um novo modelo teórico baseado na famosa equação de Drake sugere que a vida alienígena tem mais chances de surgir em universos paralelos específicos que poderiam existir ao lado do nosso em um multiverso infinito. Se for esse o caso, isso significa que não vivemos no “universo ideal” para detectar civilizações extraterrestres.
A equação de Drake é uma fórmula teórica criada pelo astrofísico americano Frank Drake em 1961 para abordar a dicotomia entre a alta probabilidade de existência de inteligência extraterrestre e o fato de não termos evidências dessa presença — um problema conhecido como o Paradoxo de Fermi. A equação de Drake estima as chances de detectar vida extraterrestre na Via Láctea. Ela se baseia principalmente no número de estrelas em nossa galáxia, pois é provável que os alienígenas precisem de uma estrela para gerar um exoplaneta que possam chamar de lar e fornecer a energia necessária para seu surgimento e evolução, apesar de algumas teorias contrárias.
Mas em um novo estudo, publicado em 13 de novembro no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, os pesquisadores expandiram essa ideia para uma escala multiversal, calculando como diferenças na densidade da energia escura — a força misteriosa que impulsiona a expansão do universo — podem afetar a quantidade de estrelas que podem se formar em diferentes universos paralelos.
O modelo revelou que a densidade ideal de energia escura em um universo permitiria que até 27% da matéria não escura se transformasse em estrelas. No entanto, em nosso universo, a fração dessa matéria que se transforma em estrelas é de 23%, o que significa que há menos estrelas e, como resultado, menos lugares para o surgimento de alienígenas, segundo um comunicado dos pesquisadores.
As novas descobertas são completamente hipotéticas e assumem a existência de um multiverso, uma teoria que está longe de ser comprovada. No entanto, “será empolgante usar o modelo para explorar o surgimento da vida em diferentes universos e ver se algumas questões fundamentais que nos fazemos sobre o nosso próprio universo precisam ser reinterpretadas”, afirmou em outro comunicado Lucas Lombriser, coautor do estudo e cosmólogo da Universidade de Genebra, na Suíça.
A energia escura é uma substância ou força atualmente não identificável que atua contra a gravidade, fazendo com que o espaço-tempo se expanda em vez de colapsar sobre si mesmo. Os astrônomos acreditam que a energia escura existe porque a expansão do universo está acelerando, embora não tenham uma ideia clara do que ela realmente é.
A quantidade dessa energia misteriosa em diferentes universos paralelos influenciaria a formação de estrelas nesses universos ao impactar a taxa de expansão cósmica: se um universo tiver menos energia escura do que o nosso, ele poderia se expandir mais lentamente, diminuindo a formação de estrelas ao permitir que a gravidade colapse estruturas em grande escala, como aglomerados estelares, galáxias ou superaglomerados galácticos. Por outro lado, se um universo tiver mais energia escura do que o nosso, isso poderia aumentar a formação de estrelas ao dispersar a matéria mais amplamente e possibilitar a formação de mais estruturas grandes, favoráveis à criação de estrelas.
No entanto, uma quantidade excessiva de energia escura faria com que um universo se expandisse tão rapidamente que reduziria a formação de estrelas ao dispersar a matéria de forma muito ampla. Como resultado, o novo modelo calculou a densidade ideal de energia escura que maximiza a taxa de formação estelar, que, curiosamente, é ligeiramente maior do que a densidade observada em nosso próprio universo. Isso significa que seres inteligentes em outros universos podem ter mais sorte em encontrar uns aos outros do que tivemos em nossa busca por alienígenas.
Os pesquisadores também suspeitam que, no multiverso, a densidade ideal de energia escura seria mais comum do que outras configurações possíveis dessa força misteriosa, como a densidade da energia escura no nosso universo.
“Pode ser que não vivamos no universo mais provável,” afirmou Daniele Sorini, cosmólogo da Universidade de Durham, na Inglaterra, e autor principal do estudo, em um segundo comunicado.