Pesquisadores ligados ao Projeto Galileo — uma iniciativa liderada por cientistas da Universidade de Harvard dedicada, entre outras coisas, ao estudo de FANI — instalaram e testaram com sucesso uma estação variométrica geomagnética no estado do Colorado, nos Estados Unidos. A estação, equipada com sensores de alta precisão, tem como objetivo detectar possíveis anomalias no campo magnético da Terra que possam estar associadas à presença de objetos anômalos.
Relatos ao longo das décadas frequentemente associam encontros com FANI a interferências eletromagnéticas, como bússolas girando sozinhas, falhas elétricas em veículos ou anomalias em sensores de aeronaves. Esses incidentes levaram os pesquisadores do Projeto Galileo a incorporar um magnetômetro vetorial (sensor que mede a intensidade e a direção do campo magnético) ao conjunto de instrumentos utilizados nas estações de observação.
A estação foi monitorada durante seis meses, entre abril e setembro de 2024, incluindo o período da intensa tempestade solar G5 registrada em maio daquele ano. Os dados coletados mostraram alta qualidade e compatibilidade com os padrões científicos estabelecidos na matriz de rastreabilidade do projeto. Os pesquisadores compararam os dados da nova estação com aqueles registrados pelo observatório geomagnético do USGS em Boulder, no Colorado, e encontraram equivalência nos resultados — confirmando a eficácia do novo equipamento.
O principal objetivo do Projeto Galileo é a coleta padronizada e multissensorial de dados sobre fenômenos anômalos, visando distinguir causas naturais, artificiais e, possivelmente, desconhecidas. Além do magnetômetro, cada estação é equipada com câmeras ópticas e infravermelhas, sensores acústicos de banda larga e sistemas de monitoramento climático. Essa abordagem permite a análise simultânea de diferentes sinais físicos que possam estar associados aos FANI.
A motivação para o uso de sensores magnéticos vem não apenas de relatos populares e históricos — como o caso de 1953 em Yuma, no Arizona, onde uma testemunha afirmou ter visto distorções ópticas ao redor de um disco voador — mas também de relatos de pilotos militares e civis que observaram distúrbios nas bússolas durante encontros com FANI, como o caso de 1992 em Haines. Além disso, existem precedentes em estudos científicos, como os realizados nos projetos Starlight, Hessdalen e MADAR, que investigaram sinais magnéticos durante avistamentos anômalos.
Base Científica Sólida
Os dados magnéticos coletados nas estações são analisados levando em conta o campo magnético natural da Terra, que se origina do núcleo externo do planeta e das correntes elétricas na ionosfera e na magnetosfera. Em ambientes isolados de interferência humana, essas variações são mínimas — o que permite identificar anomalias causadas por fatores externos.
Segundo os pesquisadores, o tipo de magnetômetro utilizado — chamado variômetro — é ideal para esse tipo de observação, pois mede mudanças rápidas no campo magnético. Embora não registre medições absolutas, ele é suficiente para detectar variações súbitas ou padrões incomuns associados a eventos transitórios, como possíveis FANI.
Com o sucesso dessa primeira instalação no Colorado, a equipe do Projeto Galileo pretende replicar o modelo em novos observatórios ao redor do mundo. A expansão das estações permitirá a criação de uma rede capaz de cobrir diferentes regiões geográficas e detectar possíveis assinaturas magnéticas de maneira mais ampla e confiável.
Embora ainda seja cedo para tirar conclusões definitivas, a iniciativa representa um passo importante em direção à investigação científica e séria dos FANI — baseada em dados reais, instrumentos calibrados e metodologia rigorosa.

O primeiro teste do magnetômetro foi realizado utilizando o software NI-DAQ da National Instruments. Esse programa permite o monitoramento em tempo real das medições e salva os dados em arquivos para análise posterior. Além disso, o software foi utilizado para calibrar o magnetômetro de acordo com as variações de temperatura e para posicioná-lo corretamente no local de instalação.
As leituras do magnetômetro podem variar dependendo da temperatura ambiente, por isso a calibração é essencial. A calibração envolve o ajuste do equipamento para garantir medições precisas mesmo quando a temperatura oscila.
Quando o magnetômetro foi entregue, ele foi testado em temperaturas entre 19,9°C e 22,3°C, fornecendo medições precisas dentro dessa faixa. No entanto, quando as temperaturas ultrapassam esses limites, é necessário corrigir os dados para manter a confiabilidade das medições.
Para isso, o magnetômetro foi comparado com um instrumento de referência altamente preciso utilizado internacionalmente. A calibração foi realizada no observatório magnético do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) em Boulder, no Colorado, em parceria com a equipe local. Esse observatório faz parte da rede internacional INTERMAGNET, que garante a mais alta qualidade dos dados magnéticos utilizados mundialmente em pesquisas científicas.
Para gravações contínuas e de longo prazo, foi desenvolvido um programa personalizado usando a linguagem de programação Python. O magnetômetro captura dados em uma frequência muito alta — cerca de 1.613 vezes por segundo — permitindo registrar mudanças rápidas no campo magnético. O equipamento também inclui filtros que eliminam ruídos indesejados, garantindo dados limpos e confiáveis.
Os dados são armazenados em arquivos separados, cada um correspondente a uma hora de gravação. Inicialmente, esses arquivos são salvos em um computador com grande capacidade de armazenamento. Posteriormente, os dados são transferidos para um supercomputador da Universidade de Harvard, onde podem ser armazenados e analisados com mais detalhes. Como medida adicional de segurança, os dados também são copiados em um dispositivo de armazenamento em rede (NAS) para evitar qualquer perda.

A instalação e os testes bem-sucedidos da estação variométrica geomagnética pelo Projeto Galileo representam um avanço significativo no estudo científico dos FANI. A capacidade de monitorar variações rápidas no campo magnético da Terra com alta precisão, combinada a uma metodologia rigorosa e multissensorial, abre novas possibilidades para identificar e caracterizar assinaturas físicas relacionadas a esses fenômenos.
Os dados coletados ao longo de um período de seis meses, incluindo eventos extremos como a tempestade geomagnética G5, demonstram que a instrumentação é confiável e capaz de fornecer informações detalhadas, essenciais para distinguir entre causas naturais, artificiais e, possivelmente, desconhecidas dos FANI. Além disso, a comparação desses dados com observatórios de referência consolida a qualidade e a validade do sistema.
Esse esforço pioneiro estabelece as bases para a expansão de uma rede global de estações multimodais, possibilitando um monitoramento mais amplo e integrado dos FANI. Dessa forma, o Projeto Galileo oferece uma contribuição promissora para a transição da pesquisa sobre FANI de um campo ainda marginal para uma investigação científica sólida e sistemática, baseada em dados reais e instrumentos calibrados.
A continuidade e a expansão desse trabalho podem ser decisivas para desvendar mistérios antigos e fornecer respostas bem fundamentadas sobre a natureza dos FANI, aproximando-nos de uma compreensão mais clara e rigorosa desses fenômenos.
O artigo, publicado na terça-feira, 15 de julho, foi escrito pelos doutores Alex Delacroix, Laura Domine, Ezra Kelderman, Sarah Little, Abraham Loeb, Eric Masson, Wes A. Watters e Abigail White, e pode ser acessado clicando aqui.