Uma equipe de físicos do CERN está prestes a realizar um feito revolucionário: pela primeira vez, transportarão antimatéria para fora do laboratório. Esse material, conhecido por ser a “imagem espelhada” da matéria e altamente instável, será transferido para diferentes instalações no campus do CERN em Genebra.
“O objetivo é expandir as possibilidades de estudo e realizar experimentos pioneiros com essa substância misteriosa”, afirmou um comunicado publicado ontem na Nature.
O que é antimatéria e por que é importante?
Cada partícula de matéria tem um equivalente de antimatéria com carga oposta. Embora se acredite que ambas as partículas tenham sido criadas em quantidades iguais durante o Big Bang, o universo é composto quase exclusivamente de matéria, deixando um mistério sem solução: o que aconteceu com a antimatéria?
Devido à complexidade de sua produção e ao alto custo – criar um único grama custaria trilhões de dólares – a antimatéria é uma das substâncias mais caras e menos acessíveis do planeta. Atualmente, o CERN é o único local onde antipartículas lentas o suficiente para serem manipuladas sem se destruírem ao entrar em contato com a matéria podem ser fabricadas e armazenadas.
Os projetos PUMA e BASE-STEPO
O transporte de antimatéria será realizado como parte de dois projetos inovadores:
BASE-STEP: O objetivo deste projeto é mover antipartículas para um ambiente livre de interferências experimentais, permitindo medições mais precisas.
PUMA (antiProton Unstable Matter Annihilation): Utilizará antiprótons para investigar estruturas nucleares em materiais altamente instáveis.
Ambas as experiências começarão com viagens curtas, de apenas algumas horas, dentro do campus do CERN. No entanto, no futuro, espera-se que essas partículas possam ser levadas para outras universidades da Europa, democratizando o acesso e possibilitando experimentos mais diversificados.
Desafios tecnológicos e medidas extremasTransportar antimatéria não é uma tarefa simples. Para evitar que as antipartículas entrem em contato com a matéria comum e se aniquilem, elas precisam ser mantidas em “garrafas magnéticas”. Essas armadilhas, resfriadas a temperaturas de -269ºC (4 Kelvin), utilizam ímãs supercondutores e geradores móveis para manter as partículas suspensas sem tocar nas paredes, uma medida crucial para preservar sua integridade.
Desafios tecnológicos e medidas extremas
Transportar antimatéria não é uma tarefa fácil. Para evitar que as antipartículas entrem em contato com a matéria comum e se aniquilem, elas devem estar contidas em “garrafas magnéticas”. Essas armadilhas, resfriadas a temperaturas de -269ºC (4 Kelvin), utilizam ímãs supercondutores e geradores móveis para manter as partículas suspensas sem tocar nas paredes.
Além disso, os cientistas enfrentam o desafio de manter um vácuo extremo dentro das armadilhas enquanto adaptam o equipamento para suportar as vibrações e forças de transporte.
Uma nova era para o estudo da antimatéria
Os projetos também buscam responder questões existenciais, como as razões da assimetria entre matéria e antimatéria após o Big Bang. O BASE-STEP, por exemplo, medirá as propriedades dos antiprótons em ambientes mais calmos, enquanto o PUMA investigará estruturas nucleares únicas usando mais de um bilhão de antiprótons.
Embora os primeiros passos se limitem ao campus do CERN, os avanços tecnológicos permitirão levar a antimatéria mais longe, possivelmente marcando o início de uma nova era para a física experimental.“Este desenvolvimento é emocionante e tem potencial para mudar o jogo no estudo da antimatéria”, disse Barbara Maria Latacz, membro do projeto BASE-STEP.
O mito em Anjos e Demônios
O autor Dan Brown levantou temores sobre os perigos desta substância em seu livro Anjos e Demônios, onde terroristas roubam um quarto de grama do CERN para usar em fins explosivos.
Porém, Alexandre Obertelli, físico da Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha, e criador do experimento PUMA, garante que não há motivo para preocupação.
“Mesmo que todos os antiprótons que a PUMA planeja transportar fossem aniquilados ao mesmo tempo, a energia liberada seria equivalente ao impacto de um lápis caindo da altura de uma mesa. ‘Não há explosão'”, afirmou.