Desde que foi descoberto pela estação do Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS), em Río Hurtado, no Chile, em 1º de julho de 2025, o objeto interestelar 3I/ATLAS vem chamando a atenção de toda a comunidade astronômica mundial — assim como de entusiastas da astronomia e até mesmo do público em geral. Isso porque os dados indicam que não se trata de um corpo celeste interestelar comum, como o 1I/ʻOumuamua (descoberto em outubro de 2017) ou o 2I/Borisov (descoberto em agosto de 2019).
Uma das primeiras anomalias que chamaram a atenção dos astrônomos foi a presença de uma “anticauda”. Durante julho e agosto, assim como no início de novembro de 2025, o objeto exibiu um jato direcionado em direção ao Sol. Diferentemente dos cometas comuns, que sob a incidência da luz solar apresentam jatos e caudas orientados no sentido oposto ao Sol, este corpo celeste mostrou uma anticauda apontando para o Sol, algo totalmente incomum e considerado altamente anômalo.

NASA, ESA, D. Jewitt )
Um dos principais proponentes da ideia de que podemos estar diante de um corpo interestelar totalmente único e possivelmente até tecnológico é Avi Loeb, professor titular da Cátedra Baird de Ciências e diretor do Instituto de Astronomia da Universidade de Harvard. Loeb vem mantendo sua página no Medium.com constantemente atualizada com as informações mais recentes sobre o 3I/ATLAS.
Desta vez, o professor publicou uma lista destacando uma série de anomalias, em especial a décima segunda já registrada nesse objeto interestelar.
A recente sabatina entre o professor Avi Loeb e o jornalista Ivan Petričević ajudou a esclarecer por que o renomado astrofísico de Harvard considera o 3I/ATLAS um dos objetos mais enigmáticos já detectados em passagem pelo Sistema Solar. Ao longo da entrevista, Loeb destacou diversos aspectos que, em sua opinião, tornam o objeto interestelar algo muito diferente de um cometa ou asteroide convencional, levantando questionamentos que permanecem abertos.
Loeb explicou que o 3I/ATLAS apresenta uma série de jatos extremamente longos e bem definidos, algo raro em objetos naturais. Esses jatos chegam a se estender por um milhão de quilômetros em direção ao Sol e três milhões na direção oposta. Segundo ele, esse comportamento poderia ser explicado ou pelo aquecimento de bolsões de gelo na superfície, ou por algum tipo de propulsão, caso o objeto fosse artificial. Loeb destacou que observações espectroscópicas nas próximas semanas poderão diferenciar claramente entre os dois cenários, medindo a velocidade dos jatos.
Outro ponto levantado foi a demora da NASA em divulgar as imagens capturadas pela câmera HiRISE durante a passagem do objeto a 29 milhões de quilômetros de Marte, em outubro de 2025. Para Loeb, a paralisação do governo dos EUA contribuiu para o atraso, mas não justifica a retenção de dados que deveriam ser disponibilizados à comunidade científica. Ele afirma que a ciência não pode ficar presa a entraves burocráticos, especialmente diante de um objeto tão singular.
Na entrevista, Loeb também voltou a criticar o ceticismo excessivo de parte da comunidade científica, afirmando que muitos astrônomos insistem em classificar todo visitante interestelar como cometa ou asteroide por estarem presos a um conjunto de dados limitado ao conhecimento passado. Para ilustrar essa limitação, ele citou o episódio em que o Tesla Roadster lançado ao espaço foi catalogado como asteroide pelo Minor Planet Center em janeiro de 2025.

M. Jäger, G. Rhemann, E. Prosperi )
Uma das maiores expectativas a respeito do objeto era sobre sua passagem pelo periélio, o ponto de sua órbita em que ele chega mais próximo do Sol, recebendo a maior quantidade de calor e radiação. É justamente nesse momento que cometas naturais costumam sofrer forte desgaste, perder grandes quantidades de material e, muitas vezes, se fragmentar completamente. No entanto, o comportamento do 3I/ATLAS contrariou todas as previsões.
Imagens obtidas em 11 de novembro de 2025 pelo Telescópio Óptico Nórdico, em La Palma, mostraram que o objeto interestelar permanece como um único corpo, sem qualquer sinal de quebra ou desintegração após enfrentar o calor extremo da aproximação solar. As novas observações revelam ainda uma anticauda bem definida, apontando para o Sol — a mesma estrutura incomum registrada pelo Telescópio Espacial Hubble meses antes — junto de uma assimetria mais fraca na direção oposta. Isso indica que o 3I/ATLAS segue expelindo material em duas direções diferentes mesmo depois do periélio.
O enigma surge ao comparar esse comportamento com o que se conhece sobre cometas naturais. Imagens recentes mostram jatos gigantescos saindo do objeto, alguns chegando a milhões de quilômetros de extensão. Para que um núcleo tão pequeno — medido pelo Hubble com apenas 5,6 quilômetros de diâmetro — consiga produzir jatos tão vastos, seria necessário expulsar bilhões de toneladas de gás ao longo de poucas semanas. Essa quantidade de material só poderia ser sublimada se o 3I/ATLAS tivesse uma área de superfície muito maior, equivalente a um corpo de 23 a 51 quilômetros de diâmetro, dependendo do tipo de gelo envolvido. O problema é que ele é várias vezes menor do que isso. Além disso, um cometa natural perdendo massa tão rapidamente deveria se fragmentar, o que claramente não ocorreu.
Essas discrepâncias criam uma nova anomalia difícil de ignorar. A continuidade da anticauda, a escala dos jatos, a integridade física do núcleo e a incompatibilidade energética tornam o 3I/ATLAS um objeto que não se comporta como nenhum cometa conhecido. Diante desses inconsistentes, Loeb propõe que parte do material expelido possa não ser produto de sublimação natural, mas sim fluxos direcionados, semelhantes a gases de escape de propulsores (como de uma nave). Se isso for verdade, jatos voltados para o Sol poderiam estar acelerando o objeto na direção oposta, como uma manobra tecnológica pós-periélio usada para ganhar velocidade.

Apesar de estarmos reunindo cada vez mais dados e compreendendo melhor esse corpo interestelar, quanto mais observatórios fornecem novas medições, mais dúvidas intrigantes surgem. Ao contrário dos cometas formados em nosso próprio quintal cósmico, o 3I/ATLAS exibe um conjunto de características e anomalias que o tornam único e profundamente enigmático. Esses elementos têm alimentado um intenso debate científico sobre sua verdadeira natureza e origem.
As imagens obtidas após o periélio acrescentam mais uma anomalia à lista, que agora soma doze mistérios associados ao 3I/ATLAS.
1 – Trajetória Incomum: Sua rota de entrada no Sistema Solar é retrógrada (no sentido contrário ao dos planetas) e, de forma surpreendente, está quase perfeitamente alinhada com o plano em que os planetas orbitam o Sol.
2 – Jato em Direção ao Sol: O cometa exibiu um jato de material ejetado que aponta diretamente para o Sol, um fenômeno que não é uma ilusão de ótica e é altamente incomum para cometas.
3 – Tamanho e Velocidade Excepcionais: Estima-se que seu núcleo seja muito mais massivo do que o primeiro objeto interestelar conhecido, o ‘Oumuamua, e significativamente maior que o segundo, o 2I/Borisov. Além disso, ele se move mais rapidamente do que ambos.
4 – Encontro Cósmico Preciso: Sua chegada ao Sistema Solar parece ter sido ajustada com uma precisão notável, passando muito próximo de planetas como Marte, Vênus e Júpiter, mas permanecendo inobservável da Terra no ponto mais próximo do Sol.
5 – Composição Química Anômala (Níquel sem Ferro): A nuvem de gás ao redor do cometa (coma) contém uma quantidade significativa de níquel, mas quase nenhum ferro. Essa proporção é altamente incomum em objetos naturais e se assemelha a ligas de níquel produzidas industrialmente.
6 – Baixa Concentração de Água: A pluma de gás do cometa é composta por uma quantidade muito pequena de água, que é o principal componente de cometas conhecidos. Isso sugere que sua atividade é impulsionada pela sublimação de gelos mais voláteis que a água.
7 – Polarização Extrema: O cometa apresenta uma polarização negativa da luz, uma característica nunca antes vista em cometas, o que indica propriedades de superfície e de poeira únicas.
8 – Origem Coincidente com o Sinal “Wow!”: A direção de onde o cometa veio coincide com a região do céu de onde foi detectado o famoso e misterioso sinal de rádio “Wow!” em mil novecentos e setenta e sete.
9 – Brilho e Cor Inesperados: Perto do Sol, seu brilho aumentou de forma mais rápida do que qualquer cometa conhecido, e sua cor era mais azulada do que a luz solar.
10 – Jatos Gigantescos e Irrazoáveis: O cometa exibe jatos de material tanto na direção do Sol quanto na direção oposta, que exigem uma área de superfície irrealisticamente grande para absorver luz solar suficiente para gerar tanto gás.
11 – Aceleração Não Gravitacional: Sua trajetória mostra uma aceleração que não pode ser explicada apenas pela gravidade, indicando que a ejeção de material está agindo como um propulsor. O objeto manteve sua integridade, sem se fragmentar, apesar da enorme perda de massa necessária para essa aceleração.
12 – Jatos Colimados e Rotação: Apesar de o cometa estar girando, seus jatos de material são extremamente estreitos e mantêm sua forma e direção por distâncias gigantescas, o que é difícil de conciliar com a rotação do núcleo.
#3IATLAS update: we've just pinpointed the comet's path with 10 times more accuracy, using data from our @ESA_ExoMars Trace Gas Orbiter spacecraft.😎https://t.co/M5kAleOMsq@esascience @ESA_TGO @esaoperations pic.twitter.com/S1XRR0Rv1a
— European Space Agency (@esa) November 14, 2025
Uma das maiores expectativas no momento está voltada para a liberação das imagens capturadas pela câmera HiRISE, a bordo da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, atualmente em órbita de Marte. Esses registros — que prometem oferecer uma visão lateral inédita da anticauda e dos jatos do objeto interestelar 3I/ATLAS — foram obtidos entre 2 e 3 de outubro de 2025, quando o objeto passou a aproximadamente 29 milhões de quilômetros do planeta.
No entanto, apesar de sua importância científica, as imagens permaneceram retidas na NASA por motivos estritamente burocráticos, consequência direta da paralisação do governo dos EUA, que se estendeu por 43 dias. A expectativa é que os dados apresentem uma resolução espacial próxima de 30 quilômetros por pixel, suficiente para revelar detalhes essenciais da estrutura da anticauda, cuja geometria incomum tem despertado grande interesse na comunidade astronômica.
A publicação dessas imagens deveria ter sido priorizada, considerando que os dados são altamente sensíveis ao tempo e fundamentais para o planejamento das observações complementares já programadas para o 3I/ATLAS. Com a promessa de liberação iminente, cresce a esperança de que a HiRISE possa finalmente oferecer respostas sobre o comportamento singular desse visitante interestelar.
