Nos Estados Unidos, uma diversidade de setores, incluindo militares, NASA, acadêmicos, organizações profissionais, legisladores e jornalistas, estão buscando entender a realidade do fenômeno UAP.
Tendo em vista tudo isso, uma pesquisa recente publicada hoje (01/09) na revista Nature investigou as percepções de professores universitários sobre alguns tópicos em relação aos UAPs.
A pesquisa abrangeu professores de 14 disciplinas em 144 universidades de pesquisa, totalizando 1460 participantes. Este estudo nacional é pioneiro ao examinar a liberdade acadêmica; como os acadêmicos avaliam a credibilidade do estudo sobre UAPs e suas preocupações com possíveis repercussões e consequências sociais ou profissionais, como a obtenção de estabilidade no emprego (tenure) ou promoções.
Os pesquisadores destacam a falta de envolvimento dos acadêmicos no estudo dos UAPs e as barreiras enfrentadas por aqueles que consideram investigar o assunto. Os autores notam que, embora existam alguns poucos acadêmicos credenciados trabalhando no tema dos UAPs, a maioria dos professores tem evitado o assunto. Essa falta de participação pode ser atribuída a sinais não ditos e à autocensura dentro da academia, que sugerem que os acadêmicos não devem gastar tempo sério lendo ou pensando sobre UAPs.
Isso ocorre apesar dos relatórios e legislações recentes que colocam o tema em destaque.
Essa situação cria um ciclo vicioso: os acadêmicos não conhecem bem o tópico porque seus pares desencorajam a discussão séria sobre ele. Como resultado, os professores não sabem o que seus colegas pensam sobre o assunto. Esse status quo impede uma avaliação acadêmica de novas informações e desencoraja os estudiosos de solicitar dados melhores de quem os possui. Assim, o público não pode contar com os acadêmicos para obter insights sobre UAPs, o que faz com que a academia abdique de um papel crucial que deveria desempenhar para o público em geral.
Apesar desse silêncio público, a maioria dos professores que participaram anonimamente do estudo indicou que consideram importante o exame dos UAPs. A academia se encontra, então, em uma situação potencialmente delicada. Alguns podem argumentar que esse tema não se relaciona com nenhuma disciplina acadêmica específica. Contudo, independentemente de se tratar de uma manobra para obter financiamento, uma operação psicológica, uma inovação secreta, uma ação adversária, uma série de erros, objetos de origem anômala e/ou inteligência não humana, ou alguma combinação dos anteriores, o estudo dos UAPs é relevante não apenas para muitas disciplinas, mas também para a sociedade como um todo.
Com essas considerações, os autores da pesquisa convidaram os professores a registrarem suas opiniões de forma aberta e confidencial. As perguntas da pesquisa incluíram: (1) Como os professores acham que seus colegas os perceberiam se realizassem pesquisas relacionadas aos UAPs?; (2) Quais são as percepções dos professores sobre pesquisas e pesquisadores relacionados aos UAPs?; (3) Qual seria a importância de uma explicação não convencional para os UAPs na academia?; e (4) Quão capazes são as disciplinas acadêmicas individuais de avaliar os UAPs?
Com as respostas a essas perguntas, o estudo discute os desafios, oportunidades e responsabilidades relevantes para a academia e considera direções futuras para o estudo dos UAPs.
Preocupações com Tenure, Promoção e percepção
Apenas 7,4% dos professores responderam que votariam negativamente para a concessão de tenure ou promoção a colegas que realizassem pesquisas sobre UAPs. A maioria (61,92%) votaria positivamente, enquanto 27,95% responderam “Talvez”.
No entanto, 52,67% dos acadêmicos expressaram alguma preocupação de que realizar pesquisas sobre UAPs poderia prejudicar suas chances de obter tenure ou promoção.
Já no que diz respeito a repercussões sociais, a preocupação com o ridículo foi significativa, com 69,04% dos entrevistados relatando algum grau de receio de serem ridicularizados por estudar o tema.
Aa disciplinas com a maior proporção de docentes que relataram algum grau de preocupação com o ridículo incluíram aquelas em biologia (82,02%), ciência política (81,46%), psicologia (79,11%), enfermagem (75,56%) e física (74,3%).
Os resultados sugerem que a preocupação do corpo docente de que conduzir pesquisas relacionadas a UAPs colocaria em risco sua estabilidade ou promoção pode exceder a negatividade real dos colegas em relação a tais pesquisas sobre estabilidade ou votos promocionais.
A importância de uma explicação não convencional aos UAPs
A pesquisa revelou que mais de 56% dos professores acreditam que a origem dos UAPs como resultado de uma inteligência desconhecida seria “Muito Importante” ou “Absolutamente Essencial” para as teorias e o conhecimento acadêmico de consenso. Além disso, 39,38% dos professores consideraram essa explicação “Muito Importante” ou “Absolutamente Essencial” para suas respectivas disciplinas. Quase metade dos professores em áreas como economia, engenharia, enfermagem e sociologia, e a maioria dos professores de outras disciplinas, incluindo antropologia, biologia, filosofia, física e estudos religiosos, classificaram essa potencial explicação como de grande importância para o desenvolvimento de suas áreas de estudo.
Capacidade de Avaliação dos UAPs
Entre os professores, 66,24% acreditam que sua disciplina é capaz, em alguma medida, de avaliar as evidências ou a importância dos UAPs. As disciplinas que mais se sentem aptas para essa avaliação incluem Física (95,82%), Filosofia (88,73%), Antropologia (87,09%) e Engenharia (83,15%). Por outro lado, as disciplinas que mais se consideram incapazes de avaliar os UAPs são Economia (59,7%), Literatura/Inglês (54,46%), Enfermagem (53,33%) e Arte e Design (51,52%).
Curiosamente, embora os professores de Física sejam os mais confiantes na capacidade de sua disciplina de avaliar UAPs, quase três em cada quatro expressaram alguma preocupação com o ridículo.
Os resultados da pesquisa evidenciam a complexidade de assuntos considerados controversos e a importância das discussões sobre liberdade acadêmica, especialmente no contexto dos UAPs. A preocupação com o ridículo e com as repercussões profissionais pode ser maior do que o julgamento real dos colegas, o que destaca uma dissonância entre percepção e realidadade.
Esta pesquisa sublinha a relevância e a necessidade de debates abertos sobre UAPs dentro da academia, promovendo transparência e um amplo espectro de perspectivas. A investigação também levanta questões importantes sobre como temas emergentes e controversos são tratados no ambiente acadêmico, particularmente em termos de liberdade de pesquisa e expressão.
A pesquisa foi conduzida pelos pesquisadores Marissa E. Yingling e Charlton W. Yingling da Universidade de Louisville, Louisville, KY, EUA.
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