Creio que todos já estejam familiarizados com o fenômeno do “chupa-chupa”, uma série de eventos que ocorreram no Brasil, principalmente no estado do Pará, mais especificamente na Ilha de Colares e adjacências, na década de 1970.
Os episódios foram caracterizados por uma série de espantosas e assustadoras manifestações, onde feixes de luz, que, segundo as testemunhas da época, vinham do céu e eram emitidos por OVNIs luminosos, atacavam pessoas e animais com um tipo de “laser” ou “sucção” que deixava marcas e provocava paralisia, tontura, palidez, anemia, queimaduras e ferimentos.
O termo “chupa-chupa” ou “luz vampira” deriva da descrição popular de que as vítimas eram sugadas ou “chupadas” por esses feixes de luz desconhecidos.
O fenômeno começou a ganhar notoriedade em 1977. Relatos de avistamentos e ataques se multiplicaram, levando a uma onda de pânico e especulação entre os residentes e auroridades locais.
Para investigar esses eventos, a Força Aérea Brasileira lançou a Operação Prato, uma missão oficial que ocorreu entre 1977 e 1978. As manifestações parecem ter cessado após o fim da operação.
Pelo menos no Brasil, porque a notícia que vocês verão a seguir fará com que pensem que, na verdade, ele continuou se manifestando em outras partes do mundo.
Chupa-chupa indiano?
Ainda ontem, me deparei com uma matéria de 2002 no site News24.com, relatando um evento que me deixou intrigado. A matéria descreve um episódio ocorrido no estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia, que certamente chamaria a atenção de qualquer pessoa familiarizada com o fenômeno do chupa-chupa ocorrido no Pará, no Brasil.
Com o título “‘Alien’ kills 7 in India” (“‘Alienígena’ mata 7 na Índia”), o site noticia que “um misterioso objeto voador, supostamente responsável por atacar aldeões adormecidos, desencadeou histeria em massa e tumultos no estado indiano de Uttar Pradesh, no norte da Índia.”
“A polícia matou um homem e feriu 12 outros quando uma multidão de centenas de pessoas invadiu a delegacia de Barabanki, exigindo proteção contra o que acreditam ser um agressor alienígena que está aterrorizando as vilas.”
“‘O objeto, descrito como uma esfera voadora emitindo luz vermelha e azul‘, é descrito atacando no meio da noite, deixando as vítimas com queimaduras ou arranhões no rosto e nos membros, e recebeu o nome de ‘Muhnochwa’ (arranhador de rosto).”
“Pelo menos sete mortes inexplicáveis na área foram atribuídas ao Muhnochwa, gerando pânico entre os aldeões, que culpam a polícia por não fornecer proteção suficiente. Autoridades sugeriram uma série de explicações, desde uma invasão alienígena até uma nova e desconhecida espécie de inseto.”
“Talvez a teoria mais bizarra tenha sido a do Inspetor-Geral Adjunto da Polícia K. N. D. Dwivedi, que afirmou que o agressor era um inseto geneticamente modificado introduzido por ‘elementos anti-nacionais’ de fora da Índia para causar caos.”
“Na linguagem comum indiana, isso é entendido como trabalho da agência de espionagem paquistanesa, o bode expiatório universal para todos os males inexplicáveis da Índia. Essa teoria não conquistou muitos adeptos. Os aldeões de toda a região não dormem mais ao ar livre, como costumavam fazer durante o calor sufocante do verão e longas faltas de energia, temendo que se tornem presas fáceis para o Muhnochwa.”
“Em algumas vilas, toda a população está se espremendo na casa do chefe da aldeia durante a noite, buscando abrigo e segurança em números.”
A matéria diz que a população perdeu a confiança na polícia e formaram patrulhas noturnas de proteção.
“Na vila de Shanwa, onde os ataques teriam começado, os homens patrulham a noite inteira, batendo tambores e gritando slogans para afastar os intrusos, como: ‘Todos fiquem alertas. Agressores, cuidado.’ Os moradores desmontaram antenas de televisão e antenas parabólicas dos telhados, temendo que pudessem atrair o objeto misterioso. Até mesmo os rádios ficaram em silêncio durante a noite sob um apagão autoimposto.”
“O ‘Times of India‘ relatou que o Departamento Nacional de Inteligência estava suficientemente preocupado para enviar seus próprios agentes, como Mulder e Scully da série de TV Arquivo X, para investigar a ‘invasão alienígena’.”
“Após ouvir as descrições dos aldeões sobre o Muhnochwa, os agentes construíram sua própria réplica a partir da base de um liquidificador, equipada com luzes coloridas, e a ergueram em um poste na tentativa de atrair o extraterrestre. Então, esperaram. Às 1h05, foram recompensados com um flash de luz ‘como uma fotocopiadora’, que se repetiu três vezes. Um vídeo teria mostrado um flash de luz passando pela tela. Os agentes concluíram que os aldeões estavam certos e que estavam realmente enfrentando uma invasão extraterrestre.”
“No entanto, os médicos locais descartaram o fenômeno como histeria coletiva, dizendo que a maioria dos ferimentos foi autoinfligida por aldeões em pânico, como a histeria coletiva do ‘homem-macaco’ em Deli no ano anterior. Pelo menos três pessoas morreram ao saltar dos telhados e dezenas mais ficaram feridas durante o reinado de terror do misterioso símio de duas semanas, antes que as autoridades descartassem como uma ilusão coletiva e os avistamentos cessassem.”
O que consegui encontrar de informações
A princípio, começaram a circular relatos de OVNIs. Orbes de luz nas cores vermelho e verde (algumas fontes falam em amarelo, vermelho, verde, azul) foram avistadas nos céus noturnos. Esses relatos, inicialmente transmitidos de boca a boca, logo chamaram a atenção da imprensa local. No início, os relatos descreviam apenas a atividade incomum dessas luzes. Pouco depois, surgiram histórias envolvendo um elemento mais próximo dos humanos, com pessoas afirmando terem sido atacadas por feixes de luzes vermelhas e verdes, resultando em ferimentos. Os danos relatados variavam de arranhões a queimaduras elétricas e até feridas profundas.
Militares, policiais e cientistas apresentaram várias explicações, que iam desde raios globulares e terrorismo paquistanês até insetos e histeria em massa. A imprensa popular publicou algumas matérias sobre os eventos.
Aparentemente, a primeira mídia a noticiar os eventos foi o Times of India, que, no dia 18/07/2002, publicou uma matéria com o título: “O medo do ‘Muhnochwa’ nas áreas rurais de UP (Uttar Pradesh).”
No dia 12/08/2002, o site Indiamike publicou uma matéria sobre o ocorrido com o título: “Aldeões indianos culpam OVNIs pelos ataques, mas a polícia culpa insetos.”
No dia 15/08/2002, o site M.rediff publicou uma matéria sobre o ocorrido com o título: “Cientista do IIT resolve mistério por trás de ‘OVNI’.”
No dia 19/08/2002, o site Rense.com publicou uma matéria com o título: “O OVNI ‘Arranhador de Rostos’ da Índia Continua a Semear Terror.”
No dia 10/09/2002, o site Ufoinfo.com publicou sobre o ocorrido com o título: “MUHNOCHWA ATACA NOVAMENTE NA ÍNDIA.”
Em 2008 um artigo foi publicado no Journal of Science Communication. O artigo entitulado “Uma visão sobre a conscientização em ciência e tecnologia – Aperfeiçoamentos na Índia“, destaca a falta de educação na área e vê os incidentes misteriosos como uma oportunidade de envolver a população local com a ciência.
O autor, Chandra Mohan Nautiyal, faz uma boa observação sobre o evento. De que se as pessoas tivessem acesso à educação, o que quer que tenha acontecido seria mais fácil de explicar por meio da evidência de testemunhas informadas. Ele busca compreender os eventos à luz da ciência.
“Alguns afirmaram ter visto gatos, outro um cachorro, e em outro caso, um objeto semelhante a uma ‘boneca flutuante’ de cerca de 90 cm de altura. As descrições da criatura variaram amplamente. Seria impossível conciliar todas essas observações. Algumas observações visuais podem ter sido parcialmente verdadeiras, mas a identificação incorreta. O horário relatado de algumas luzes em movimento coincidia com o horário de voos. Em princípio, uma ‘boneca flutuante’ poderia ter sido um plasmoide.”
O surgimento de uma lenda
É notório que há intensas superstições em culturas fortemente religiosas. Ao pesquisar sobre o caso, percebe-se o rumo que os eventos tomaram, entrelaçando-se com crenças populares que se sincretizaram no imaginário popular.
Hoje em dia, o Munnochwa é visto como uma espécie de lenda moderna indiana, assumindo formas assustadoras. Inicialmente, começou com avistamentos de orbes luminosos que, posteriormente, emitiram luzes e atacaram as pessoas. Mas logo em seguida, ganhou outras formas e aparências, com descrições variando de monstros com formas de falcão, gato e até boneca voadora.
Parte disso se deve, acredito eu, à explicação oficial das autoridades locais, que disseram que os ataques eram causados por um tipo de gafanhoto geneticamente modificado. Juntamente com uma pitada de crença popular e uma mente fértil, essa explicação se disseminou de várias maneiras, sendo moldada pela própria psiquê humana.
Um blog indiano escreveu sobre o evento em 2017, criticando-o e tratando-o como uma histeria generalizada com ares de um épico indiano.
“O que era o Mukhnochwa? Era algo que aparecia no escuro, não podia ser visto e mordia as pessoas, causando apodrecimento da boca e levando à morte rápida. Muitos diziam que tinham visto o Mukhnochwa, mas na verdade ninguém o viu de fato.
Se começarmos a descrever seu tamanho, seria como escrever um épico. Em nosso vilarejo, havia um ‘Bardakau Baba’ que afirmava ver tudo. Ele disse que ‘o Mukhnochwa tinha 25 centímetros de de largura e 10 centímetros de comprimento, com um design parecido com um mosquito e asas longas como as de um morcego.’ Segundo ele, aqueles que duvidavam de sua existência eram tolos. Alguns diziam que era uma raposa voadora, outros que era uma raposa com metade do corpo de um humano, e alguns alegavam que sua cauda emitia luz azul e seus olhos luz vermelha.
Alguns patriotas acreditavam que era um drone robótico fabricado na China e enviado pelo Paquistão para nos atacar. O fenômeno não só incomodou as pessoas, como também perturbou a todos. Durante a noite, as pessoas que passavam pela rua na frente das nossas casas eram inspecionadas para verificar se eram espiões operando o Mukhnochwa. A polícia estava tão perturbada quanto todos os outros e não conseguia controlar a situação. O drama durou dois meses e então o Mukhnochwa desapareceu, como se nunca tivesse existido.”
Em 01/10/2002, o site Skeptika publicou uma matéria com o título: “A Verdade sobre o Arranhador de Rostos”. O autor, um indiano, dá sua opinião sobre o que acredita, considerando o caso como um mito sem evidências.
Semelhança com o chupa-chupa de Colares – Operação Prato
Podemos notar a evolução da lenda ao pesquisarmos o caso, assim como uma notável semelhança com os eventos da Operação Prato.
O Mukhnochwa foi inicialmente descrito como um OVNI colorido, às vezes como um orbe, que, além de emitir luzes coloridas, direcionava essas luzes para os aldeões locais. No entanto, outras formas também foram relatadas desde o início.
Quando o fenômeno atacava as pessoas, causava choques elétricos, queimaduras e arranhões, deixando marcas. Os feixes de luz eram verdes e vermelhos. Embora os rostos fossem os principais alvos, outros membros, como os braços, também foram atingidos. Uma observação a fazer é que talvez a maioria dos arranhões no rosto possam ter sido autoinfligidos devido à histeria que tomou conta da região, principalmente talvez, por causa do recente episódio à epoca, o Incidente em Deli ocorrido um ano antes, em 2001.
Os locais começaram a realizar vigílias e a se reunir nas casas dos chefes das aldeias. Isso lembra alguma coisa?
Os habitantes se armaram com o que puderam para se defender. Isso lembra alguma coisa?
A Agência Nacional de Inteligência da Índia enviou agentes para investigar os ocorridos. Isso lembra alguma coisa?
Um trecho de uma das primeiras matérias a relatar o ocorrido, publicada em julho daquele ano pelo Times of India, descreve:
“Segundo moradores locais, o objeto voador emite raios de luz vermelha ou verde, causando choque elétrico e ferimentos em pessoas que entram em contato com ele.”
“As pessoas têm opiniões variadas sobre o formato e o tamanho do objeto. Enquanto alguns afirmam que ele é como um falcão, outros o descrevem de várias maneiras, como um gato, uma boneca de borracha ou uma aeronave.”
Como já mencionei, a princípio tratava-se de um OVNI (orbe) que emitia luzes coloridas, mas também foram descritas várias outras formas. Havia mais de um tipo?
Na matéria vinculada pelo Indiamike, um dos primeiros a noticiar o ocorrido, publicada em agosto, alguns relatos de testemunhas descreviam o OVNI como uma grande bola de futebol:
“Era como uma grande bola de futebol com luzes cintilantes”, disse Kalawati, que usa apenas um nome. “Queimou minha pele.”
Curiosamente, desde os primeiros relatos, as formas dos objetos variavam de OVNIs com formato de bola de futebol, gato, aeronave, até mesmo humanóides, como no caso da boneca voadora. Com o tempo, surgiram descrições de vários outros monstros voadores que arranharavam rostos.
É surreal como os eventos se desenrolaram em comparação com o caso no Brasil. Podemos notar, além das características dos OVNIs e das formas de manifestação (ataques), semelhanças na maneira como o fenômeno foi encarado pelos locais, além das variadas formas dos objetos.
“Os moradores não estão convencidos. Na área mais afetada, o distrito de Mirzapur, a 440 milhas a sudeste de Nova Délhi, as pessoas pararam de dormir ao ar livre, apesar do calor escaldante e das frequentes quedas de energia. Os moradores também formaram esquadrões de proteção que patrulham Shanwa, batendo tambores e gritando slogans como: ‘Todos em alerta. Atacantes, cuidado.'” Matéria do Indiamike.
“Em algumas aldeias, toda a população se espreme na casa do chefe para passar a noite, buscando abrigo e segurança em número.” Matéria do Rense.com.
“Em alguns lugares, os moradores estavam evitando ir para a cama à noite. Mas desafiando toda a lógica, pessoas em pânico mantêm vigília com fogueiras, armas, mangueiras e bastões para enfrentar o objeto.” Matéria do Times Of India.
Aparentemente, a diferença destacável entre o caso chupa-chupa no Brasil e o caso do Mukhnochwa são mortes. Algumas foram atribuídas ao fenômeno em Uttar Pradesh. Mas embora algumas tenham sido atribuídas ao fenômeno, não podemos precisar se estavam realmente relacionadas a ele.
Outro ponto de diferença é que o fenômeno supostamente se afastava quando era revidado com água pelos locais. Isso levou alguns a questionar se poderia ser algum objeto controlado remotamente por agentes paquistaneses.
“Outro aspecto interessante foi que, sempre que jogavam água nele, o objeto fugia rapidamente, indicando que poderia haver uma câmera instalada nele.” Matéria do Times Of India.
Fora isso, as características dos incidentes indicam que o mesmo fenômeno de Colares pode ter ocorrido naquela região.
Embora não tenha encontrado referências específicas sobre pessoas que tenham sentido paralisia, tontura, palidez e anemia, como no caso chupa-chupa, é possível que tenham sofrido tais efeitos.
Também devemos observar uma semelhança com o caso dos “Pelacaras” no Peru, que chamou a atenção da comunidade UFO no ano passado. Os locais relataram OVNIs e entidades humanas, porém, eram os seres que atacavam os rostos dos aldeões. Neste caso, ao contrário de Colares e Uttar Pradesh na Índia, os responsáveis pelos ataques seriam diretamente “seres humanoides com aparência semelhante à humana”.
Existem registros do Mukhnochwa?
A matéria do Skeptika diz que sim:
“A única visão objetiva disponível foi um vídeo de 2 minutos gravado em Mizrapur. Ele mostrava um feixe de luz movendo-se em círculos e desaparecendo novamente na escuridão, enquanto as pessoas gritavam de medo. Isso, na verdade, não revelou muito do segredo e poderia muito bem ter sido apenas uma lanterna.”
Isso parece se confirmar na matéria do site M.rediff. O professor Ravindra Arora, cientista do Instituto Indiano de Tecnologia-Kanpur (IIT), encarregado pelo governo estadual de investigar o ocorrido, propôs a teoria do raio bola como explicação. Na época, ele tentou contato com o único homem que havia filmado o fenômeno e copiado para um CD que foi enviado ao IIT. “O homem está vindo de Mirzapur hoje ou amanhã. Assim, poderei obter um relato em primeira mão do que ele viu e como tudo aconteceu.”
Aparentemente, essa filmagem seria o único registro do fenômeno. O ano era 2002, em uma região pobre da Índia. Se a única filmagem disponível foi parar nas mãos de um instituto enviado pelo governo para analisar os eventos, cuja explicação foi raio bola, então já sabemos onde isso vai parar.
Isso lhes lembram algumas coisas?